segunda-feira, 11 de abril de 2011

Informática - Futuro ?




Assim como o movimento dos corpos obedece às Leis de Newton, o universo da tecnologia se comporta há décadas como mandam os postulados de uma tal Lei de Moore. Elaborada em estudo publicado há 46 anos pelo fundador da Intel, Gordon Moore, a teoria diz que é possível colocar o dobro de transistores dentro de um microprocessador pelo mesmo custo de produção a cada 18 meses ou dois anos. O problema - que começa a desafiar a trilionária indústria da tecnologia - é que daqui a no máximo uma década a Lei de Moore não será mais aplicável. Além de causar enormes prejuízos, o fim do princípio pode, de acordo com previsões mais catastróficas, "balançar a estrutura econômica do capitalismo".

É justamente esse poder dado ao chip - a capacidade dos processadores de crescer exponencialmente em um curto espaço de tempo - que impulsiona uma robusta e bem-sucedida indústria movida a lançamentos fabulosos a cada Natal. Por isso, tão preocupante (para a indústria) quanto um mundo em que as maçãs de Newton venham a cair mais devagar é um cenário tecnológico sem a validade da Lei de Moore, pois as estruturas dos chips serão pequenas a ponto de desafiar as dimensões do átomo. Assim preveem cientistas, analistas e o próprio Moore.


Com seus negócios ameaçados por essa perspectiva, a indústria corre com as pesquisas para substituir a tecnologia atual e evitar a estagnação dos seus produtos. Nas palavras do físico do City College de Nova York, Michio Kaku, em seu recém-lançado "Physics of the future", "o colapso da Lei de Moore é um problema de importância internacional" que pode "balançar a estrutura econômica do capitalismo".

O que está em jogo é um mercado gigantesco. Apenas o setor de semicondutores (venda de chips), o embrião disso tudo, vai movimentar US$ 325 bilhões em 2011, segundo previsão da IHS iSuppli. E os produtos que ele proporciona movimentam cifras incalculavelmente maiores.
Tecnologia à base de luz pode substituir a atual, mas ainda é cara

Em 2011, a maior fabricante de processadores do mundo, a Intel, gastará US$ 7,3 bilhões em pesquisa e desenvolvimento para, entre outras coisas, driblar o fim da Lei de Moore. Mas nem ela nem suas concorrentes fazem previsões sinistras quanto as de Kaku.

- A Intel garante que continuará usando o silício até 2020. Até lá, portanto, a Lei de Moore continuará valendo. Mas estamos chegando cada vez mais perto do limite desse material - afirma Fidel Rios, engenheiro de aplicações da Intel no Brasil. - Por enquanto, o silício é o que oferece o melhor custo-benefício, mas já pesquisamos diversos outros materiais e tecnologias que podem substituí-lo para que o avanço dos chips prossiga sendo viável após 2020.

O diretor de engenharia da AMD, outra gigante do mercado de chips, não acredita no fim da Lei de Moore.

- Mesmo que sejam atingidos os limites de miniaturização de circuitos em silício, pesquisas por novos materiais e técnicas de construção de chips vão continuar permitindo crescimento de performance a médio e longo prazo - diz Roberto Brandão, que não revela quanto a AMD investe em pesquisa.

Apesar desse otimismo com as futuras tecnologias, há um temor real de que haja estagnação no mercado. Kaku prevê, por exemplo, que o Vale do Silício se transformará num "cinturão enferrujado" com o ocaso do material que lhe empresta o nome.

- Podemos dizer, sim, que a tendência é que haja uma estagnação no ritmo da indústria. Mas a área de microeletrônica tem evoluído de forma fantástica e, com a necessidade se impondo, as empresas procurarão uma solução - analisa Antonio Petraglia, professor de engenharia elétrica da Coppe/UFRJ com pós-doutorado na Universidade da Califórnia.

Os fabricantes de equipamentos eletrônicos serão diretamente afetados pelo destino da Lei de Moore. Procuradas, Positivo, Dell, HP e a Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica (Abinee) não se posicionaram sobre a questão.

Já Len Jelinek, pesquisador da consultoria americana IHS iSuppli, diz que o consumidor não se sentirá afetado:

- Os consumidores estão mais interessados em como as coisas funcionam do que na tecnologia que há por trás.

Otimismos à parte, é provável que os transistores no silício farão, em breve, parte do passado. Nesse caso, o que virá dentro de PCs, Macbooks e smartphones?


A resposta mais provável é a tecnologia óptica. Como lembra o cientista-chefe da IBM no Brasil, Fábio Gandour, pode ser viável "trocarmos o elétron pela luz". Ou seja, fazer com que as informações circulem dentro do chip por meio de fótons, em vez de eletricidade. A tecnologia é promissora porque gasta menos energia, emite menos calor e é muito mais rápida. Só que, por enquanto, é cara demais. Gandour também aponta como opção o nanotubo de carbono, cuja vantagem maior está na espessura de sua "parede": apenas um átomo. Outra tecnologia cara demais por ora
Enquanto essas opções se mostram economicamente inviáveis, a indústria tenta uma sobrevida à Lei de Moore, estendendo as potencialidades dos circuitos integrados.

- Exemplos disso são os chips com mais de um componente, como a linha Fusion da AMD e a Sandy Bridge da Intel, que integram o processamento gráfico ao circuito tradicional. Ou seja, fazem duas coisas num só componente - afirma Jelinek.

Antonio Petraglia, da Coppe, diz que as fabricantes de chip também usam bastante o germânio, semi$, para potencializar o fluxo de elétrons dentro do chip.

- A Lei de Moore não é uma lei física e, sim, uma percepção adequada da tecnologia. Mas ela é, antes de qualquer coisa, uma excelente jogada de marketing - polemiza Gandour. - Estamos chegando, sim, perto do limite da tecnologia empregada hoje, mas isso só assusta quem não investe em pesquisa e desenvolvimento. E isso a IBM faz com US$ 6 bilhões anuais.
'Software terá papel mais importante', diz pesquisador

Se o futuro dos chips é uma dúvida, o certo é que a ciência e o consumo demandam máquinas cada vez mais potentes. Exemplo disso são computadores capazes de realizar processos complexos ao mesmo tempo, como o Watson da IBM, que venceu humanos num programa de perguntas e respostas nos EUA há alguns meses. Ou, como lembra Fidel Rios, da Intel, computadores intuitivos, que respondem ao pensamento.

Enquanto os esforços se concentram no avanço sem fim do chip para possibilitar esse futuro, alguns cientistas questionam se os processadores terão papel tão relevante assim. Pesquisa publicada em dezembro por um grupo de conselheiros da Casa Branca diz que o aperfeiçoamento dos algoritmos dos softwares - área que até pouco tempo esteve no segundo plano da ciência da computação - promove resultados milhares de vezes mais eficazes no desempenho dos computadores do que as melhorias no hardware. É nisso que acredita o coordenador do Centro de Referência em Inteligência Empresarial (Crie) da Coppe/UFRJ, o engenheiro de produção Marcos Cavalcanti:

- Estamos passando por uma mudança de paradigma. O futuro da computação está muito mais ligado ao gerenciamento de vários processos, vários chips, do que em chips mais poderosos. O software desempenhará papel mais importante do que o hardware.

PS.Parece que minhas suspeitas estão se confirmando. :(

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